Em cada cena de rua, sempre existe aquele skatista lendário. Aquele que desafia as leis da física e da convivência com a mesma intensidade. Para Kim KS, esse nome era Diego Neves, mais conhecido no asfalto como Churrasquinho.
O primeiro encontro entre os dois foi tudo, menos amigável. Com sua personalidade forte e impaciente, Churrasquinho não economizou nas palavras. Debochou, provocou e desafiou. Pulou uma tampa de bueiro com desdém e ainda lançou a frase que ecoou na mente de Kim como uma flecha certeira:
“Tu parece uma gralha, nem sabe pular uma caixa de fósforo.”
Aquelas palavras, ácidas e diretas, apertaram um gatilho. Não de raiva, mas de foco. Kim não deixou o ego falar mais alto — deixou o skate falar por ele. Mesmo sabendo da habilidade absurda que Churrasquinho tinha, resolveu se provar. Não para vencer o outro, mas para vencer a si mesmo.
E foi ali que algo inesperado aconteceu. O desdém virou admiração. O conflito virou conexão. E a rivalidade deu lugar a uma amizade profunda, daquelas que o tempo e o asfalto selam como irmandade. Viraram faixa, viraram história viva do rolé, lado a lado pelos picos do Rio.
Churrasquinho era mais que skatista. Era estilo, era atitude, era fogo no olho. Mas como muitas estrelas intensas, brilhou forte e se foi cedo demais. Em 2016, o Rio perdeu um nome das ruas. Kim perdeu um irmão. A cena perdeu um dos seus personagens mais marcantes.
Churrasquinho pode ter seguido outro caminho, mas deixou sua marca nos muros, nos rolés e nos corações de quem teve o privilégio de dividir a pista com ele.